
Filho é um bicho ingrato. Precisei ser mãe para entender isso. Para perceber que quando ela perguntava se eu tinha chegado em casa ou se estava levando um casaquinho, não era para controlar, era para cuidar. Não era sobre o casaco. Era sobre amor. O mais puro e genuíno. Aquele que passa noites em claro e ainda assim enfrenta o mundo no dia seguinte. O mesmo que espera em troca apenas um olhar, um sorriso, um cheirinho.
Ser mãe não é algo que se explica com facilidade, embora todos reconheçam sua importância. Nem vou tentar, porque falharia. É como tentar descrever o sabor do suco de tamarindo. Só provando para saber.
Mãe é aquela que ouve, ao chegar num lugar, que o filho começou a chorar só porque ela apareceu. E sabem por quê? Porque, perto dela, ele se sente seguro para ser ele mesmo. Para demonstrar medo, raiva, cansaço, alegria. É na presença da mãe que as defesas caem. Isso deveria ser bom. Mas ela se culpa mesmo assim, porque a culpa é parte do pacote da maternidade. Não é opcional.
Entre culpas e delícias, há algo inquestionável: o colo de mãe. Seja um bebê ou um adulto formado, quando o mundo aperta, quem ele procura é a mãe. Não é o pai, não é o amigo, não é o irmão. É a mãe. Nada contra os outros, mas nada se compara àquele abraço.
É ela quem disfarça o choro para não assustar o filho. Quem engole o medo para transmitir segurança. Quem se anula um pouco, ou muito, todos os dias, para que a vida do outro flua melhor. E faz isso sem cobrar. Porque ser mãe não é sobre receber, é sobre doar.
Nem sempre a gente se lembra de que a mãe também precisa de colo. Que ela também tem seus dias difíceis, seus próprios medos, suas dúvidas. Que também precisa de atenção, de cuidado, de uma escuta sem pressa. Mas ela raramente se coloca em primeiro lugar. Não por obrigação, mas porque, com o tempo, acaba achando natural ser o alicerce de todo mundo.
Hoje, vejo minha mãe de outra forma. Olhos de quem enfim entendeu o que ela fazia todos os dias, sem plateia, sem reconhecimento. Um olhar de gratidão, mas também de arrependimento por cada vez que revirei e reviro os olhos, por cada resposta impaciente.
Eu preciso da minha mãe. Ainda preciso. Mesmo adulta, mesmo também sendo mãe. Porque o colo dela ainda é meu porto seguro. E se um dia eu for metade do que ela é para mim, minha filha estará em boas mãos.