
Bolhas, como são chamados grupos online expostos apenas a informações, desinformações e opiniões que confirmam aquilo em que já acreditavam, são barulhentas e nos fazem acreditar que tudo é preto ou branco, alto ou baixo, bom ou ruim. Sem meio-termo, estamos fadados à mediocridade da falta de opções e de reflexão. Acostumamo-nos com isso nas eleições mais recentes, em que o menos rejeitado vence, vide índices de abstenção e votos brancos ou nulos.
Os defensores da anistia aos participantes do fatídico 8 de Janeiro de 2023 justificam que os baderneiros não podem ser julgados a rodo. Por outro lado, defendem o perdão indiscriminado, não importando o que cada um fez. Sob o pretexto de fazer justiça, só se afastam dela. É contraditório exigir julgamento justo e individualizado, ao mesmo tempo em que se cobra o perdão coletivo.
Quem acredita na anistia irrestrita como caminho da justiça também tem tentado passar a ideia de que as pobres das pessoas estavam passeando em Brasília, sem intenção de quebrar, pichar ou defecar em locais públicos. Parece que estavam no meio de um tour, de uma excursão e, sem querer, tropeçaram e passaram batom na estátua da Justiça, ao acaso. Não foi isso. Alguns foram, sim, manipulados e pagaram um preço por isso. Acreditaram no conto do vigário, numa ideia que foi alimentada pelas redes sociais e WhatsApp. Muitos se alienaram esperando o golpe e viraram marionetes dos cabeças desse plano.
O contrário de anistia, no entanto, não é colocar todos no mesmo saco e julgar diferentes como iguais. O Supremo Tribunal Federal deveria, desde sempre, ter preservado a individualidade dos participantes naquelas cenas lamentáveis. Mais do que isso, fica a sensação de que a instância mais alta da justiça brasileira trabalha somente com este tema e movido a polêmicas. O processo de responsabilização é necessário, de acordo com a participação de cada um. Não se pode, nem condenando todos igualmente, nem anistiando, apagar as fronteiras entre líderes golpistas, financiadores e participantes manipulados. Isso não é justiça.
Pode-se concordar ou discordar do resultado de uma eleição, mas disso para bolar um plano golpista, são outros 500. Embora queiram afastar essa ideia, dizendo que não houve golpe, um grupo debateu opções à posse de um presidente eleito, alimentando uma teoria de fraude que nunca se comprovou.
Defender o estado democrático de direito implica aceitar que ele funcione, até para punir os que tentaram destruí-lo. Anistiar sem critérios é desrespeitar esse capítulo triste que será mostrado nos livros de história, o patrimônio destruído e, acima de tudo, o pacto constitucional que garante as liberdades de todos nós.