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Após um momento de turbulência, em virtude da prisão e consequente renúncia do cargo do presidente Carlos Arthur Nuzman, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) completa nesta terça-feira (11) cinco anos de gestão sob o comando de Paulo Wanderley.
Em 2017, ele foi eleito em assembleia extraordinária e precisou criar uma comissão para realizar uma reforma do estatuto do COB — que alterou o processo eleitoral na entidade, aumentou a participação dos atletas e estabeleceu regras menos rigorosas para composição das chapas para o comando da instituição. Além de enfrentar uma suspensão provisória imposta pelo Comitê Olímpico Internacional, em virtude do escândalo envolvendo Nuzman, o que determinou o congelamento de subsídios e pagamentos do COI à entidade brasileira, que também ficou sem permissão para "exercer seus direitos nas Associações Olímpicas Nacionais (NOC)". Hoje, o dirigente de 72 anos vive um fase de tranquilidade e, em seu segundo mandato, colhe frutos dessas e outras realizações.
Em entrevista ao programa Gaúcha 2024 da Rádio Gaúcha, Paulo Wanderley fez uma avaliação destes cinco anos e algumas projeções, enquanto se preparava para acompanhar competições e participar de reuniões em meio aos Jogos Sul-Americanos, que estão sendo realizados em Assunção, no Paraguai, e se encerram no próximo sábado.
Qual sua avaliação sobre estes cinco anos de gestão?
Foram anos de bastante desafios na gestão da entidade e na consolidação do esporte olímpico do Brasil, que foi construído com o apoio de nossa equipe. Eu tive a felicidade em contratar pessoas, experts e isso foi um ponto vital, estar cercado de profissionais de muita competência na gestão de suas áreas. Isso facilitou nossa retomada de um caminho de sucesso e hoje o Comitê Olímpico do Brasil é uma entidade respeitada e reconhecida no Brasil, por todos os segmentos, assim como internacionalmente. Tivemos a dificuldade da suspensão no final de 2017, mas em fevereiro (de 2018) conseguimos nos recuperar e daí pra frente nunca mais aconteceu nada e, pelo contrário, somos considerados uma referência em termos de gestão de comitês olímpicos mundo afora.
Implementação de controle de gastos, austeridade exigida com as confederações...
Nos nossos pilares estão a meritocracia, nós reconhecemos quem trabalha, a transparência, publicamos e divulgamos tudo que promovemos e realizamos e austeridade, que não significa não investir, pelo contrário. É investir e otimizar esse investimento. O exemplo atrai mais e o COB tem dado exemplos. As confederações que já eram boas estão cada vez melhores e as que não tinham essa prática aderiram a boa governança. Nós temos um programa chamado Gestão, Ética e Transparência, que é implementado não só para o COB, porque nós também nos avaliamos, mas oferecemos às confederações, não exigimos, e a adesão foi total. A cada trimestre é feita uma medição geral das modalidades e elas estão cumprindo este dever. Porque isso não é excepcional, é o que tem de ser feito. São inovações recentes em termos de esporte. Aderimos e estamos tendo sucesso nas nossas 34 modalidades olímpicas, que estão bem ajustadas e estão trabalhando junto com o COB.
A mudança de estatuto ampliou a participação dos atletas. Que efeitos esse exemplo tem? No futebol, por exemplo, eles têm pouca participação.
Houve uma aproximação muito grande com a comunidade dos atletas. Já existia a Comissão de Atletas do COB, mas a representação deles nos órgãos de decisão era restringida apenas ao presidente da comissão. Aumentamos a participação para 12, no começo, e hoje eles são 19 atletas, que formam um terço do colégio eleitoral do COB, com voz e voto nas nossas assembleias decisórias e também no Conselho de Administração do COB, que foi criado e é composto por representantes de confederações, do COI, dos atletas e membros independentes. O Conselho de Ética foi criado e os membros são eleitos, não indicados, assim como o Conselho de Administração e a de Atletas. Isso é um marco pra nós.
Campanhas para prevenir assédio, discriminação, doping. Como o COB tem lidado com isso?
A instituição do Canal de Ouvidoria do COB é outra ação de sucesso. O Conselho de Ética é bastante atuante e felizmente não tem tido relevância em relação ao que envolve o COB especificamente, em relação a atletas, profissionais. Temos a Área de Mulher no Esporte, que foi criada este ano e nós já realizamos o primeiro Fórum Nacional Olímpico da Mulher no Esporte, que é uma ação importante. No COB, mais de 60% dos colaboradores são mulheres. A área de educação e prevenção ao doping é atuante. Todas as nossas delegações que viajam para missões internacionais passam por um período de aprendizagem nessas questões. Temos cursos online de acesso sobre essa área, para jovens e até mesmo os pais dos atletas. Temos mecanismos, ferramentas apropriadas para controlar, diminuir e prevenir essas questões de assédio, doping, que tem uma atenção toda especial no COB.
Para os Jogos de Paris 2024, o Brasil tem a base de Saint-Ouen. Qual a importância desse local?
O vôlei passou pela nossa base de Saint Ouen, antes do Campeonato Mundial - o Brasil foi bronze. É um projeto fundamental e já faz parte do nosso cardápio de serviços que são oferecidos aos nossos atletas e equipes e tem sido um diferencial.
E o que o senhor pode nos dizer sobre os Jogos Sul-Americanos, onde o Brasil tem liderado o quadro de medalhas?
Conversando com os líderes das modalidades aqui dá pra perceber a satisfação dos atletas com os serviços que estão sendo oferecidos aqui e eles têm correspondido com os resultados. Os Jogos são um sucesso. É um evento bem organizado, até acima da expectativa e as equipes brasileiras estão atendendo o objetivo de retomar a liderança no continente, já que, em Cochabamba (2018), o Brasil ficou atrás da Colômbia e existem vagas em disputa, em algumas modalidades, para os Jogos Pan-Americanos de 2023, que por sua vez também serão classificatórias para os Jogos Olímpicos e as equipes vieram com apetite de conquistar e retomar essa liderança no continente sul-americano.