
Os volumes históricos de chuva que atingiram o Rio Grande do Sul nas últimas semanas colocaram, novamente, a agropecuária gaúcha em estado de atenção. Somado aos danos nas culturas e nas propriedades, o frio intenso desde a largada desta semana vira mais uma preocupação no desenvolvimento da atividade.
A Emater está em campo para avaliar a dimensão dos estragos e prepara um levantamento das perdas. O objetivo é documentar, a partir dos relatos dos produtores, os impactos no campo e subsidiar políticas de amparo.
Os volumes chegaram a 500 milímetros nas áreas mais afetadas. Vídeos registrados por agricultores mostraram a água arrasando lavouras nas regiões de São Borja e de Santa Maria.
Típicas da estação, as culturas de inverno são as mais danificadas. Os danos preocupam sobretudo o trigo, que teve o plantio atrasado em algumas áreas devido ao avanço da chuva. Na Região Central, onde foram registrados altos volumes, a instabilidade atingiu etapa fundamental do desenvolvimento das plantas, como a germinação.
Com solo exposto, chance de replantio
Os prejuízos não ficam restritos ao que já havia sido plantado. As condições do tempo expuseram o solo a um quadro que já vinha prejudicado desde as enchentes de 2024. O excesso de água lavou terras nas propriedades, retirando boa parte da cobertura fértil.
— Há questões que envolvem erosão laminar em áreas recém-semeadas ou áreas que estão descobertas, a erosão de semeadura que se chama — descreve o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera.
A situação pode levar à necessidade de replantio das culturas em algumas áreas.
Na pecuária, tempo afeta pasto e animais
Na pecuária, parte dos prejuízos se refere à qualidade do pasto destinado aos animais. A chuva em excesso afetou a disponibilidade de alimento, levando à necessidade de suplementação em alguns rebanhos. Já em relação ao frio, a queda brusca das temperaturas preocupa em relação ao estresse térmico gerado aos bichos.
Baldissera ainda cita os danos fora da porteira, como os impactos nas estradas vicinais, que prejudicam o transporte e a logística tanto de cargas quanto de insumos.
Em 2024, 206 mil propriedades rurais foram afetadas pela enchente no Estado, de acordo com a Emater. As perdas no setor foram bilionárias e ainda se refletem no endividamento dos agricultores. A Farsul estima R$ 72 bilhões em dívidas.