
Uma semana após a confirmação que abalou a avicultura gaúcha e brasileira, a produção de aves entra agora em uma nova etapa no monitoramento da gripe aviária. O Rio Grande do Sul e o Brasil estão no período de vazio sanitário — um intervalo de 28 dias em que, se não houver novo foco da doença, Estado e país retomam o status de zona livre da influenza H5N1.
O chamado marco zero iniciou-se na quinta-feira (22), depois que foi concluída a desinfecção da propriedade em Montenegro que registrou o primeiro foco de gripe aviária em produção comercial no país. O prazo de quatro semanas para que o foco seja considerado encerrado representa duas vezes o período de incubação do vírus causador da gripe aviária.
Uma vez considerado livre da doença, o Brasil pode rever os embargos comerciais que mais de 30 países impuseram ao mercado em diferentes graus de abragência — nacional, estadual e local (entenda abaixo).
O caminho até a desinfecção
Tão logo foram confirmadas as suspeitas de circulação do vírus no Estado, uma série de protocolos sanitários foi aplicada para evitar que a doença se espalhasse para outros plantéis, sobretudo os comerciais. As ações começaram com o sacrifício das aves doentes na propriedade em Montenegro, incluindo a destruição de ovos e outros itens de contato que permaneciam no local, e se estenderam para barreiras sanitárias no entorno até 10 quilômetros da granja que abrigava o foco.
A corrida dos serviços de vigilância e defesa sanitária animal foi fundamental para evitar que o vírus se propagasse rapidamente. Considerada altamente contagiosa, a gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) já dizimou milhões de aves pelo mundo. Sua taxa de mortalidade é alta e súbita, capaz de matar aviários inteiros em poucos dias, por isso a necessidade de ações rápidas.
Todas as 540 propriedades rurais situadas próximas à granja com o foco de influenza foram vistoriadas. Desse total, 30 delas se encontravam mais próximas da área afetada, num raio de três quilômetros.
Cronologia das ações em Montenegro:
- 11/5 – Notificação de mortalidade pela empresa integradora
- 12/5 - Atendimento pelo Serviço Veterinário Oficial e interdição da granja
- 13/5 - Envio de amostras ao Laboratório Federal
- 15/5 – Confirmação do foco em relatório parcial
- 16/5 – Sacrifício das aves restantes, início do processo de saneamento e descarte em vala
- 17/5 – Início da higienização e desinfecção da granja
- 18/5 – Continuidade da limpeza e desinfecção da granja
- 19/5 – Resultado negativo da amostra coletada em 17/5 e finalizada desinfecção do incubatório de Soledade
- 20/5 – Encerramento do ciclo de vistorias na área de vigilância, colheita de amostra de ave silvestre na área perifocal e conclusão do segundo ciclo de vistorias no perifoco
Suspeitas no radar
Desde a confirmação do caso em produção comercial, ampliaram-se as suspeitas em análise pelo Serviço Veterinário Oficial no país. Até quinta-feira (22), o painel do Ministério da Agricultura contabilizava nove suspeitas em investigação no Brasil, a maior parte delas em aves de criação doméstica e de subsistência.
No Rio Grande do Sul, uma amostra segue em análise, em suspeita sobre ave de subsistência em Gaurama, no Norte. Outras duas foram descartadas, em Triunfo e em Derrubadas.
O ponto de atenção se volta ao Estado de Santa Catarina, também grande produtor de carne de frango, com ao menos quatro suspeitas em observação, uma delas em produção comercial.
Diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da secretaria da Agricultura do RS, Rosane Collares explica que muitos dos sinais respiratórios e nervosos da gripe aviária se assemelham aos de outras enfermidades virais das aves. Assim, para evitar qualquer dúvida, todas as notificações de animais com sintomatologia compatível são testadas em exames laboratoriais para verificar ou descartar a ocorrência de H5N1.
Embargos comerciais
O prazo de 28 dias sem a ocorrência de novos focos da doença é fundamental para que as negociações comerciais sejam retomadas. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), são 150 destinos para os quais o Brasil vende frango.
Desde a conformação do caso de Montenegro, 32 países suspenderam as compras de carne de frango gaúcha ou brasileira. A abrangência dos embargos depende de cada acordo comercial. Com o objetivo de amenizar os impactos econômicos, uma série de negociações está em curso para que os importadores reduzam as suas restrições em caso de focos.
Abrangência dos embargos:
- Para todo o Brasil: China, União Europeia, México, Iraque, Coreia do Sul, Chile, África do Sul, União Euroasiática, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Timor-Leste, Marrocos, Bolívia, Sri Lanka, Paquistão, Filipinas e Jordânia.
- Para o Rio Grande do Sul: Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão e Ucrânia.
- Para Montenegro: Emirados Árabes e Japão.
O setor produtivo avícola tem sido cauteloso ao projetar o tamanho do impacto financeiro da suspensão das exportações. Maior exportador mundial de carne de frango há 20 anos, o Brasil tem uma fatia de quase 40% do mercado global da proteína. Na segunda e terceira colocação, EUA e União Europeia também têm casos de influenza aviária. Isso tudo limita a substituição por outros fornecedores.
No mercado interno, a tendência é de que o preço da carne de frango e dos ovos caiam para o consumidor devido à maior oferta, mas outros fatores precisam ser considerados, como o ajuste da produção por parte da indústria.