Neste sábado (17), equipes com equipamentos de proteção ainda circulavam pelo local onde foi descoberto o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Nesta propriedade, na área rural de Montenegro, no Vale do Caí, cerca de 17 mil aves morreram em razão da doença, sendo que 1,6 mil delas precisaram passar por abate sanitário.
As ações realizadas na propriedade, que envolvem o abate dos animais, incineração, aterramento de materiais que tiveram contato com as aves e desinfeção estão entre as medidas que são adotadas no município após a confirmação do foco, por meio do Ministério da Agricultura. O intuito é controlar a proliferação da doença.
— A partir do momento que nós recebemos a confirmação do caso de influenza aviária aqui no município de Montenegro, colocamos em ação todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, que, na verdade, são protocolos internacionais — explica a diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal, Rosane Collares.
No último dia 9 foi percebida a mortandade das aves, e foi realizada uma coleta de amostra para exame na sequência. A confirmação da doença ocorreu na quinta-feira (15), quando a maior parte das aves já estava morta. A granja trabalha com a produção de ovos férteis (para criação de novas aves e não para consumo) – em razão disso os lotes estão sendo rastreados.
Na propriedade afetada, que possui vínculo com a Vibra Foods, as equipes trabalharam até o começo da madrugada deste sábado (17) e retornaram no início da manhã. O acesso ao local permanece isolado, com vigilância privada. A reportagem buscou no local contato com os proprietários e representantes da empresa, mas foi informada, por meio da equipe de segurança, que a orientação repassada neste momento é de que somente os órgãos oficiais irão se manifestar.
Em nota, a Vibra afirmou que "todas as Informações sobre gripe aviária no Brasil devem ser atualizadas com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Secretaria de Agricultura e Ministério da Agricultura".
Barreiras sanitárias
Sete barreiras sanitárias estão sendo montadas neste sábado em Montenegro, em um raio de 10 quilômetros a partir da propriedade afetada. Seis barreiras têm como foco a desinfecção e a sétima fará o desvio de trânsito.
— Nessas barreiras nós temos como objetivo a contenção, então é feita a abordagem dos nossos veículos alvo, que são principalmente os que transportam animais, ração e leite — explica Rosane.
Servidores da Secretaria de Agricultura em conjunto com o Comando Ambiental da Brigada Militar farão a fiscalização nas barreiras. Segundo a secretaria, os veículos particulares poderão seguir circulando normalmente nesses locais. Somente aqueles que têm contato direto com as propriedades rurais precisarão passar pela desinfecção.
— Esses veículos que entram em várias propriedades rurais, têm atividade comum a várias propriedades, então é feita a desinfecção com desinfetante apropriado, para que com isso a gente consiga ir diminuindo, mitigando os riscos de disseminação da doença. Então, esse é o objetivo principal das barreiras, não ocorre interrupção de trânsito, não ocorre nenhum tipo de mudança na rotina das pessoas — detalha.
Visitas em propriedades
Outra medida que tem como objetivo entender se há outros possíveis focos da doença no município é a visitação de 540 propriedades rurais. Dessas, somente cerca de 30 delas estão dentro da área mais próxima afetada, em um raio de três quilômetros. O intuito é identificar se há algum sintoma em animais.
Cada equipe em visita às propriedades é composta por dois fiscais médicos veterinários. Quando chegam na propriedade, eles conversam com os proprietários e, caso haja identificação de alguma mortalidade ou sintoma, com doença respiratória ou nervosa das aves, eles não entram na propriedade e marcam o local para seja realizada uma coleta.
— Vai depois uma equipe específica para isso. Se eles não têm nenhum tipo de identificação, eles entram e fazem uma inspeção visual das aves. Não se manipula, mas se observa, para ver exatamente se está tudo certo — explica Rosane.
Dentro do raio dos 10 quilômetros, há somente mais um aviário comercial. Ainda assim, todas as propriedades serão vistoriadas, já que podem ter criação de aves para consumo próprio.
— Se a propriedade tem aves, ela fica marcada para uma nova visita, porque o plano de contingência também prevê que a cada três dias as propriedades do raio de três quilômetros sejam revisitadas. E a propriedade no raio dos 10 quilômetros é revisitada a cada sete dias. Então, nós vamos fazer mais de uma visita. Se a propriedade já for identificada como não tendo aves, ela não vai ser visitada novamente — afirma.
Tanto as barreiras, como as visitas nas propriedades, devem ser mantidas ao menos durante uma semana. Após esse período, o cenário será avaliado, a depender se algum novo foco da doença será encontrado ou não.
Apreensão entre produtores
Entre os produtores rurais de Montenegro, o clima também gera apreensão sobre a proliferação da doença, o que as medidas vêm tentando evitar. Secretário de Desenvolvimento Rural de Montenegro, Vlademir Gonzaga diz que há cerca de 25 aviários no município e que 70% da produção é destinada à exportação.
— Esse setor é de suma importância porque nós temos frigoríficos que abatem e exportam para o mundo inteiro. Esse setor é o terceiro maior arrecadador de ICMS para o município. Temos produtores que também vão ser impactados, até que se resolva tudo isso, até que se crie confiança de novo, isso acaba trazendo apreensão — afirma.
Segundo o secretário, ainda não foram realizadas estimativas do que essa situação pode acarretar em aspectos financeiros, mas Gonzaga projeta que haverá impactos na arrecadação:
— Vai impactar os recursos da prefeitura, porque vai parar de exportar, vai haver algum impacto de emprego, talvez, não se sabe ainda. Estamos avaliando de que forma isso vai nos impactar economicamente. Os produtores, além de produzir o frango, eles têm a parte de transporte, de alimentação, de ração. Então, isso tudo afeta. A parte de comércio, de rotina da cidade, ela não muda, ela continua, mas com certeza a gente vai ter algum impacto sim.