
Depois de mais de três anos de embargo à carne bovina brasileira, por suspeita de problemas sanitários, a China voltou em 2015 a importar carne do Brasil e já é o maior parceiro no setor, com um montante de 1,5 bilhões de dólares em 2016. Esse sucesso é o resultado de anos de negociação entre governos e empresas dos dois países, quando o setor da carne bovina teve de comprovar que seus sistemas de produção e controle sanitário são confiáveis e seguros.
Estudos conduzidos pela doutora Susanne Knoll e pelos professores Júlio Barcellos e Antônio Padula, do PPG-Agronegócios-UFRGS, na tese "A cadeia de suprimentos da carne sino-brasileira: sua estrutura e seus fatores de risco" sugerem um conjunto de ações que poderiam contribuir para melhor entendimento do setor.
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O estudo ressalta o fato de os chineses terem grandes dificuldades em seu sistema de produção de carne bovina devido à base produtiva dispersa e com frágeis controles sanitários. Assim, eles confiam mais nos sistemas internacionais de certificação e estão ávidos pela carne bovina importada, pois ela é geradora de status e prestígio social. A inserção brasileira como fornecedor para a China ainda é pautada por carnes de menor valor e que dificilmente conquistarão o consumidor chinês de classe média. Contudo, é um caminho promissor para num segundo momento, a partir de uma relação de confiança, conquistar o espaço atendido pela Austrália, Argentina e Uruguai.
Para isto, é preciso compreender bem essa dinâmica, pois os chineses valorizam muito as relações pessoais entre os interlocutores públicos e privados na forma de fazer negócios, dificuldade inerente às nossas representações, pois o Brasil apresenta insuficiente capacidade de profissionais na embaixada chinesa para aproximar o governo e os importadores daquele país. A ausência de um corpo estável de técnicos e negociadores como interlocutores entre o governo e os importadores chineses gera desconfiança e dificulta as negociações e relações comerciais.
É necessária a adoção de uma estratégia de comunicação, marketing institucional, mecanismos de networking e a superação dos problemas estruturais da cadeia da carne bovina no Brasil, como a rastreabilidade, certificações sanitárias e a coordenação entre os seus elos. Independente da forma de comunicação e do conteúdo dos problemas veiculados, a operação Carne Fraca afetou as relações comerciais entre o Brasil e a China.
Será necessário reconstruir uma relação de confiança com um país com tradição milenar nos negócios internacionais. Governo e agentes do setor da pecuária de corte terão de unir e integrar esforços para recompor essa confiança. Certamente passaremos por processos de reestruturação no setor e, para responder a isso, os centros de pesquisas da UFRGS estão preparados para contribuir.
Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro-UFRGS)
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