
A partir de Belém, são necessários menos de 10 minutos de barco para chegar a um cenário típico da Amazônia, com água doce abundante e mata nativa preservada.
Margeada pelo rio Guamá, a Ilha do Combu se tornou uma das principais vitrines para a COP30 a partir do desenvolvimento de projetos de bioeconomia, que valorizam produtos extraídos da floresta, geram renda e animam a comunidade ribeirinha de 1,8 mil habitantes.
O desenvolvimento da ilha, a quarta maior entre as 39 que compõem a região insular da capital paraense, começou há pelo menos 20 anos, mas ganhou impulso a partir de 2023, quando Belém foi escolhida como sede da conferência sobre o clima da ONU — marcada para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro.
A moradora mais famosa

Segundo levantamento do Sebrae, no começo dos anos 2000 havia três pontos comerciais no Combu. Hoje, são mais de 70 empreendimentos consolidados e outros em construção.
Diante do aumento da demanda, o Sebrae identificou a necessidade de se aproximar da comunidade e instalou uma sede física na ilha. Em 30 ações de capacitação entre 2024 e 2025, ao menos 700 ribeirinhos participaram de oficinas, palestras e cursos, com temas relacionados à vocação local para comércio e turismo.
Os esforços para que a ilha não dependa exclusivamente da pesca e do extrativismo começaram alguns anos antes da exposição gerada pela COP. Em 2006, Izete Costa, nascida e criada em meio a plantações de cacau, decidiu que faria seu próprio chocolate. Hoje, dona Nena, como é chamada por todos, se tornou a moradora mais famosa do Combu.
No ano passado, o presidente Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, visitaram sua chocolateria, já instalada em uma ampla construção de palafita que reúne fábrica e comércio de chocolate e outros derivados do cacau plantado na ilha.
Qualificação na serra gaúcha
Para desenvolver produtos que hoje acumulam prêmios e são disputados entre os turistas, dona Nena, 60 anos, uniu receitas de família ao conhecimento que foi buscar no Rio Grande do Sul. Em 2018, passou uma temporada realizando cursos na Castelli Escola de Chocolataria, em Canela. Desde então, o negócio cresceu e se profissionalizou.
— Tenho muito orgulho e felicidade em ver que hoje tenho meu próprio chocolate. Mas também porque ajudo no empoderamento de mais mulheres, de moradores da ilha que se envolvem no trabalho de bioeconomia. O que a floresta me oferece eu consigo transformar, e isso dá visibilidade para a ilha também — diz dona Nena.

Geração de empregos
Além de empregar em torno de 40 pessoas, dona Nena viu de perto nos últimos anos a consolidação de cooperativas de transporte, que carregam moradores e turistas, o fortalecimento de restaurantes, além da manutenção da cultura extrativista de maneira sustentável.
O Sebrae tem auxiliado os moradores a estruturar os negócios, desde o processo de formalização, de cálculo de custos, até a promoção de práticas ambientalmente sustentáveis. Lidar com o impacto do aumento no fluxo de pessoas é um desafio para a região, que ainda lida com pouca estrutura. O coordenador da agência do Sebrae no Combu, Alexandre Alves, explica:
— Nos aproximamos da comunidade e aqui trabalhamos com gestão financeira, valorização de produtos da região, formação de preços. Também nos tornamos um hub de ações sustentáveis.
O Sebrae pretende fazer da COP oportunidade para micro e pequenos empreendedores consolidarem este ecossistema. O diretor-superintendente do Sebrae do Pará, Rubens Magno, observa:
— Estudos mostram que 13 produtos da Amazônia Legal geram pelo menos R$ 12 bilhões anuais para o PIB regional e que, com desmatamento zero e investimentos adicionais, esse potencial é maior e pode chegar a R$ 38,6 bilhões por ano até 2050. Além disso, há a possibilidade de geração de mais de 830 mil novos empregos ligados à bioeconomia em toda a região.
O potencial da floresta

Esse ciclo colaborativo também envolve arte e experiências de turismo no interior amazônico. Há seis anos, um casal de moradores do Combu criou o Ygara Artesanal e Turismo, que envolve diversas famílias na difusão do conhecimento tradicional dos ribeirinhos. Além da venda de produtos locais, o negócio recebe turistas interessados em conhecer a rotina na floresta.
— Passamos a entender o potencial da nossa floresta. Percebemos que estava tudo pertinho da gente, a gente só precisava se capacitar e trabalhar com isso — conta Gerson Teles, 48, um dos proprietários.
Ele entende que, além de ser vitrine de bioeconomia, a Ilha do Combu deve ajudar delegações estrangeiras a compreenderem a verdadeira realidade amazônica, em seus potenciais e desafios:
— Eu digo que só vai entender a floresta quem vier aqui, quem conhecer o povo que mora aqui. A floresta precisa estar em pé, mas precisa ter um povo forte aqui cuidando dela. Com apoio, nós vamos continuar aqui.


