
Quem anda por Porto Alegre e outras cidades do Estado pode ter reparado que as orquídeas e os ipês parecem mais floridos neste ano. A explosão de cores que tomou conta das ruas, praças e quintais não é coincidência: especialistas confirmam que o clima dos últimos meses criou as condições perfeitas para um florescimento mais vibrante nesta primavera.
— Notei que as orquídeas estão atrasadas. Tanto que na exposição que fizemos na primeira semana de setembro, tivemos 21 Cattleya Intermedia. Normalmente, temos entre 400 e 500. Em compensação, as orquídeas estão muito mais floridas. Cultivo elas há anos e nunca vi uma floração tão abundante como neste ano — avalia Lurdes Portella Piva, presidente do Círculo Gaúcho de Orquidófilos (CGO).
As plantas não seguem um calendário com datas marcadas como os humanos, brinca Pedro Maria Abreu Ferreira, biólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Isso significa que, quando a primavera começa — seja pela astronomia ou pela meteorologia —, elas não entram imediatamente em modo de floração. A época de florescimento varia de ano para ano, a partir de vários fatores.
— Cada individuozinho de planta toma uma decisão interna, baseada em alguns critérios, para florescer e para o tamanho da florada. Ao longo do ano, a planta acumula um número de horas que ela é exposta ao sol, uma quantidade de água, de dias frios e dias quentes. É como se ela montasse uma conta fisiológica, até chegar no momento em que ela pode decidir quando florescer e o quanto ela vai investir em flores, que determina se vai ter mais ou menos flores — explica Ferreira.
Orquídeas
As orquídeas pertencem à família Orchidaceae, considerada uma das maiores e mais diversas famílias de plantas com flores. Segundo Rodrigo Singer, professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em orquídeas, algumas plantas, como as conhecidas pelo nome olho de boneca (Dendrobium nobile) e as Cattleya Intermedia, costumam florescer entre agosto e setembro.
— Em geral, as orquídeas apreciam melhor um certo espaçamento do molhado. Então, não ter episódios frequentes de muita chuva é importante. É mais fácil matar uma orquídea por excesso de água do que por falta. E essas plantas também gostam, às vezes, de um período ou de seca, ou de frio, ou ambos. Tivemos isso esse ano — complementa.
Lurdes, mais conhecida como Dinha, cultiva a planta há quase uma década. Além de ser presidente do CGO, ela mantém um orquidário na casa em que vive, em Porto Alegre, com mais de 4 mil orquídeas de diferentes espécies e estuda com dedicação para aperfeiçoar os conhecimentos como criadora.
Segundo ela, o inverno deste ano teve intervalos de frio intenso e ameno, o que pode ter ajudado a liberar os hormônios vegetais que induzem a formação das hastes florais. Algumas das flores raras do orquidário particular de Dinha floresceram pela primeira vez neste ano, e outras tiveram uma florada muito maior do que o habitual, pontua:
— Ano passado foi uma floração pequena, menos expressiva. Esse ano, todas estão muito bonitas. Acho que muito por conta dessa alternância que tivemos no inverno, de dias quentes e frios, e de umidade, com chuva bem distribuída, e luminosidade. Esses fatores são importantes para a formação dos botões florais, por isso elas estão mais saudáveis e vibrantes. Fiquei muito feliz.

Ipês e jacarandás
Embora pertençam a famílias diferentes, ipês e orquídeas parecem ter combinado o auge da floração neste ano. Segundo os especialistas, as duas plantas respondem de forma parecida às variações do clima. Na Capital, muitas ruas ficaram cobertas de flores amarelas, lilás, rosas e roxas, pertencentes à família das Bignoniaceae, entre o final do inverno e esse começo de primavera.
— Nos outros anos, tivemos episódios de chuva intensa ou invernos mais secos. E esse ano, tivemos chuvas bem distribuídas ao longo de todo o inverno. Tivemos frio, também, um pouco intenso em determinadas épocas. Não dá para dizer que foi o frio ou a seca, por exemplo, mas é um conjunto de fatores climáticos que leva a essa floração exuberante — acrescenta Rosana Farias Singer, curadora e pesquisadora do Jardim Botânico e especialista em Bignoniaceae.
Entre setembro e novembro, florescem os ipês amarelo, roxo e branco. Depois, de outubro a novembro, é a vez dos jacarandás, árvores com flores lilás que se assemelham aos ipês e que também são conhecidas pelos porto-alegrenses. Segundo a especialista, essas plantas costumam florescer uma vez ao ano, por período de 15 a 20 dias.
A maioria das plantas da família Bignoniaceae espalhadas pela Capital são produzidas em viveiros e, depois de grandes, transportadas para diferentes pontos da cidade. Rosana afirma que essas flores não precisam de cuidados delicados, como as orquídeas, e que podem ser centenárias, uma vez que duram bastante tempo.
— Os ipês já floresceram e estão lindos. Os jacarandás, que vão começar agora, também vão ser exuberantes esse ano. Já vi pelos poucos que começaram a abrir as flores que estão carregados. Essa é a árvore que marca a Feira do Livro de Porto Alegre. É importante ressaltar que, em um ano, as plantas florescem bem e no ano seguinte, têm menos flores. Então ano que vem, elas vão florir igual, mas não vão ser tão abundantes quanto nesse ano — prevê.



