
Um dos temas no centro das discussões da COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA), a descarbonização passou de um conceito, como em décadas atrás, para uma processo que já faz parte da linha de produção das principais empresas do país.
Em um ambiente marcado por necessidade de práticas eficientes e sustentáveis, redução de custos, atendimento a consumidores mais exigentes e busca por competitividade, a redução das emissões de gases de efeito estufa virou uma necessidade.
Com o holofote da sustentabilidade voltado para o Brasil no fim do ano, empresas gaúchas e brasileiras terão a oportunidade de mostrar para o mundo iniciativas que focam na descarbonização. O diretor da consultoria ambiental Ecossis, Gustavo Leite, destaca esse potencial:
— É uma oportunidade muito grande que a gente tem de protagonizar uma liderança ambiental mundial em relação à pauta da descarbonização, seja pelo potencial de recursos naturais que o Brasil possui, seja pelo momento político que a gente vive com a COP aqui no Brasil. Com relação ao Estado do Rio Grande do Sul, de uma forma geral, as empresas gaúchas têm, historicamente, essa visão de ter uma certa liderança empresarial em alguns setores.
As práticas desenvolvidas por empresas brasileiras vão desde veículos elétricos e híbridos até incentivo para produtores reduzirem a emissão de gases de efeito estufa. E parte desses exemplos tem sede em solo gaúcho.
Na indústria
A Randoncorp, indústria com sede em Caxias do Sul e que oferece soluções para o transporte, é uma das empresas gaúchas que vão marcar presença na COP30.
O presidente da Randoncorp, Daniel Randon, informa que a companhia levará uma série de exemplos de produtos e soluções desenvolvidas no âmbito da descarbonização interna e de seus parceiros. O executivo destaca que essas iniciativas traduzem o compromisso da Randoncorp com a mobilidade sustentável e a responsabilidade ambiental.
Entre as iniciativas de destaque está o desenvolvimento de produtos verdes, como o e-Sys, que, entre inúmeros benefícios, gera uma economia potencial de combustível de até 25%, podendo chegar a 35% no conjunto.
DANIEL RANDON
Presidente da Randoncorp
O sistema de tração auxiliar elétrico atua na recuperação de energia cinética gerada em movimentos de descida e frenagem. Essa carga pode ser usada em momentos que exigem tração, como subidas e ultrapassagens. Segundo o presidente da Randoncorp, testes de desempenho mostraram que a ferramenta promove a redução de até 90 toneladas na emissão de carbono, além de menor desgaste no sistema de freios. Essa tecnologia já é comercializada para semirreboques e está em fase de conceito para caminhões, implementos agrícolas e semirreboques frigorificados, segundo Randon.
Automação
A tecnologia Autonomous Technology for Transportation (AT4T) é outro exemplo de ferramenta que a Randoncorp vai apresentar na COP30. O sistema permite a operação autônoma e precisa de veículos em ambientes controlados, como terminais portuários, aeroportos, e pátios logísticos. O veículo conta com sistema de tração 100% elétrico.

Além desses dois produtos, a Randoncorp vai destacar outras iniciativas, como sua metodologia de cálculo da pegada de carbono dos produtos, investimentos em autoprodução de energia a partir de fontes renováveis, como a solar, e processos industriais de menor impacto, segundo o presidente da companhia.
Daniel Randon afirma que os projetos de descarbonização da Randoncorp se encontram em diferentes estágios de maturidade, mas que todos “já fazem parte da rotina produtiva da empresa”.
No campo
A redução da pegada de carbono também tem boas inciativas no campo. A empresa com foco em soluções no agronegócio 3tentos, de Santa Bárbara do Sul, no Noroeste, marcará presença na COP30.
Marcia Bisol Pagliarini, gerente de sustentabilidade da empresa, afirma que a 3tentos tem exemplos como rastreabilidade na cadeia, foco em biocombustíveis, implantação de florestas e agricultura de regeneração. Nesse sentido, ela destaca a iniciativa Selo Carbono, um programa desenvolvido pela 3tentos que certifica os produtores que trabalham com agricultura regenerativa.
Dentro das práticas da agricultura, nós estamos em contato com o nosso produtor através da assistência técnica, aumentando cada vez mais a agricultura regenerativa para estarmos reduzindo então as emissões, quando a gente olha para a cadeia.
MARCIA BISOL PAGLIARINI
Gerente de sustentabilidade da 3tentos
Transporte
A Marcopolo, também de Caxias do Sul, é outra empresa gaúcha que prepara presença na COP 30. Além de participar de fóruns e eventos na conferência, em Belém, a companhia mantém conversas com governo e outras entidades, oferecendo alternativas para auxiliar no transporte das delegações, utilizando ônibus com foco em descarbonização.
A empresa ainda não bateu um martelo sobre os painéis dos quais vai participar e aguarda retorno sobre o uso de seus coletivos no transporte de comitivas, mas pretende estar presente no evento com a frota descarbonizada.
Eu diria que são produtos descarbonizados, ou seja, que contribuem para a descarbonização do transporte público. Então, nós vamos lá com o aéreo elétrico, o biometano e também com o ônibus híbrido e o etanol.
RUBEN BISI
Diretor de Relações Institucionais da Marcopolo
Construção
Setor com força no Estado e no país, a construção civil também vai marcar presença na COP30. O segmento vem buscando nos últimos anos alternativas mais sustentáveis e com menos pegada de carbono na produção.
A construtora MRV, de Belo Horizonte, também avalia participação no evento. Além de questões logísticas, a companhia estuda quais as principais iniciativas de descarbonização que poderá destacar na conferência.
José Luiz Esteves da Fonseca, gestor executivo de Relações Institucionais e Sustentabilidade da MRV, afirma que a empresa busca fornecedores com pegada menor de carbono, além do projeto de cidades sustentáveis e inteligentes.
A gente hoje está trabalhando muito em cidades sustentáveis e na questão de desenvolvimento urbano e trabalho com smart cities. Então, talvez a gente vá levar para a COP produtos de construção civil sustentável, onde a pegada de carbono menor faz parte de todo esse processo.
JOSÉ LUIZ ESTEVES DA FONSECA
Gestor executivo de Relações Institucionais e Sustentabilidade da MRV