
Desde a última sexta-feira (16) até a noite de domingo (18), a província de Buenos Aires, na Argentina, enfrentou tempestades extremas. Estima-se que tenha chovido cinco vezes mais que o esperado para todo o mês de maio nessa parte do país.
Considerando a proximidade entre a Argentina e o Rio Grande do Sul, além da lembrança do que ocorreu em maio de 2024 no Estado, uma das perguntas que surgem é: há chance dessa chuva chegar ao território gaúcho?
À AFP, Cindy Fernandez, meteorologista do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina, disse que "a precipitação normal em maio é de cerca de 70 a 80 milímetros durante todo o mês". Algumas áreas registraram mais de 400 milímetros em menos de três dias. Ainda há previsão de chuva nesta segunda-feira (19) na Grande Buenos Aires, mas sem alertas por parte do órgão nacional.
A tempestade do final de semana afetou especialmente a zona norte da província, que abrange Buenos Aires e sua área metropolitana, provocando enchente, evacuação e bloqueio de rodovias.
O que está motivado a chuva na Argentina
O cenário de chuva extrema na região de Buenos Aires esteve associado à manutenção de um fluxo contínuo de de ar úmido e quente em direção à Foz do Rio da Prata e área central da Argentina, afirma o meteorologista Murilo Lopes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
— Na metade da última semana, houve o avanço de uma frente fria até aquela região, quando começaram as tempestades, porém com volumes baixos. Esse sistema se afastou para o oceano, mas ainda persistiu a convergência de umidade, mantendo as tempestades, praticamente estacionadas em torno de 30 a 40 horas exatamente sobre o mesmo ponto — adiciona o especialista.
O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, atribuiu o ocorrido às mudanças climáticas.
— Este evento é absolutamente extraordinário. Chama-se mudança climática — declarou o político ao canal de notícias Crónica TV.
Esse foi o segundo evento climático extremo a atingir a província de Buenos Aires em 2025. Uma tempestade histórica no início de março provocou enchente e deixou pelo menos 16 pessoas mortas na cidade de Bahía Blanca.
Chuva extrema deve chegar ao Rio Grande do Sul?
A região de tempestades formada sobre a Argentina começou a avançar para a direção Norte ao longo do final de semana após o avanço de uma nova frente fria. O meteorologista Murilo Lopes pontua que essa área de instabilidade chegou ao Rio Grande do Sul ainda no domingo (18), mas com uma intensidade bastante reduzida. Hoje, esse cenário já se dissipou como um todo.
— A situação aqui foi diferente, tivemos até alguns volumes altos no Oeste do Rio Grande do Sul, porém nada comparado à situação da Argentina. Por dois motivos: houve uma perda de intensidade desse fluxo de ar úmido e quente em direção ao Rio Grande do Sul. Sobre a Argentina, esse escoamento ao Norte foi bem mais intenso. E também, a frente fria passou rapidamente pelo Estado, então foi um sistema progressivo e não de lento deslocamento.
Chuva até quarta no RS
Há previsão de chuva para o Rio Grande do Sul até a quarta-feira (21), que será provocada por outros elementos. Conforme o meteorologista Cléo Kuhn, do Grupo RBS, uma parte da umidade que está sobre o país vizinho ainda pode se deslocar para o Estado, influenciando na ocorrência de pancadas de chuva entre segunda-feira e terça-feira.
— A massa de ar quente que está segurando o tempo seco por aqui vai para o oceano e um pouco da umidade que está sobre a Argentina avança pra cá, que deve provocar chuva fraca entre a noite desta segunda-feira e amanhã. Enchente não tem — garantiu.
Na quarta-feira, segundo o meteorologista do Grupo RBS, as áreas de instabilidade devem se deslocar em direção a Santa Catarina e Paraná. É possível que a chuva se concentre no norte do Estado gaúcho, mas não são esperados acumulados expressivos.
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