Fiz uma alentada entrevista com o governador Sartori, quinta-feira à tarde, por Skype. Por Skype, veja só.
Sou um adepto da ciência e da tecnologia. Pense: a distância entre Porto Alegre e Boston, em linha reta, atravessando todo o Brasil, parte do Oceano Atlântico e todos os Estados Unidos, do sul da América do Sul ao norte da América do Norte, essa distância resulta em exatos 8.311 quilômetros. E conversei durante quase uma hora com o governador como se estivesse ao lado dele, na ala residencial do Palácio Piratini.
Viva a ciência. Viva a tecnologia.
Sartori estava bem-humorado, como sempre. Ele é um homem bem-humorado. Havia três questões, nessa entrevista, que me interessavam mais do que todas. Em primeiro lugar, queria saber se os aprovados nos concursos da Brigada Militar e da Polícia Civil seriam nomeados neste ano. Como venho dizendo, a segurança pública é provavelmente a área que mais inquieta os gaúchos, hoje em dia. As pessoas estão às franjas do pânico.
Bem.
As notícias não são boas. Sartori não vai nomear ninguém em 2015. "Não posso contratar mais gente, se estou tendo dificuldades para pagar os que já estão trabalhando", disse. E pediu compreensão da sociedade para a contingência. Mas esses mesmos aprovados deverão ser chamados no ano que vem. Sartori lembrou que um concurso vale por dois anos, podendo ser prorrogado para outros dois.
O segundo ponto que mais interessava era um tema que ele abordou durante a campanha e que, me pareceu, passou ao largo, ninguém prestou muita atenção: Sartori havia insinuado ser contra a eleição para diretores de escolas. Perguntei a respeito, e ele deixou claro que não é exatamente um apreciador dessa instituição, pelo menos não como ela se apresenta hoje. Mas não vai acabar com a eleição para diretores. Vai, apenas, exigir que os diretores tenham curso de gestão escolar, o que já está sendo feito na prática e deve virar lei.
Finalmente, o terceiro ponto que me despertava mais curiosidade era se parte do Estado será ou não vendida.
Será.
Não em 2015, mas em 2016 haverá consultas à população possivelmente já nas eleições municipais. Essas privatizações têm de passar por plebiscitos, e Sartori terá de promovê-los, ou contornar a exigência com parcerias e consórcios. Neste ano, ele prefere não tocar nessa área, porque, como o mercado está recessivo, nenhuma venda deveria alcançar bom preço.
Conheço Sartori há mais de 20 anos. Percebo que ele já tem o domínio da situação, mas sabe que mudanças profundas só são realizadas com rupturas profundas, e rupturas profundas produzem profunda dor. Sartori sempre tenta evitar a dor, mas agora isso é impossível.
Muita gente perderá status e privilégios, muita gente ficará ressentida. As medidas de que o Estado precisa não tornarão o governador mais popular. Ao contrário. Sartori já está se preparando para essa dura etapa do seu governo. A partir do próximo verão, talvez, ele sabe que terá de causar dor.