Por Eliana Wendland, médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento e líder do projeto Atitude
Com o sucesso do tratamento contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV), a presença constante de artistas e personalidades famosas emagrecidos devido à aids deixou de dominar as manchetes das revistas e dos jornais, gerando uma falsa sensação de que os números da doença diminuíram. O que melhorou, no entanto, foi o programa de controle da doença do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, que se tornou um modelo global e, consequentemente, acabou elevando a expectativa de vida das pessoas vivendo com o vírus. A doença, enfim, deixou de ser uma sentença de morte.
No entanto, estamos novamente diante de um grande desafio para o controle da transmissão da doença: Porto Alegre e Região Metropolitana enfrentam uma epidemia generalizada de HIV. O que era apenas uma hipótese frente às altas taxas de mortalidade repetidamente divulgadas pelos boletins do Ministério de Saúde virou uma certeza com a divulgação dos dados do estudo Atitude, em junho deste ano. Dos 1,3 milhão de moradores de Porto Alegre, estima-se que cerca de 22 mil vivem com HIV. Muitos deles, talvez, ainda não saibam sobre a sua condição.
A resposta efetiva para essa epidemia precisa ser rápida e requer não apenas esforços institucionais
Nossa pesquisa, demandada pelo Ministério da Saúde e realizada pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com a UFCSPA, mostrou taxas de positividade suficientes para manter a transmissão de forma sustentada na população geral. São novos desafios para um agravo que não é novo, mas que continua avançando devido ao estigma que ainda cerca as pessoas vivendo com o HIV, à falta de educação e conhecimento sobre a doença e suas formas de transmissão, e principalmente, devido à falta de prevenção.
Embora 95% das pessoas saibam onde encontrar preservativos, somente cerca de 25% referiram ter usado a proteção na última relação sexual. E a frequência de uso diminui com a idade.
Como a infecção não causa sintomas específicos, realizar o teste é a melhor forma de saber sobre a doença e, em caso positivo, iniciar o tratamento o mais rápido possível, evitando a progressão para a aids e diminuindo a transmissão.
A resposta efetiva para essa epidemia precisa ser rápida e requer não apenas esforços institucionais, mas também a responsabilidade individual. Somente com um aumento significativo na testagem, campanhas de conscientização direcionadas aos jovens e práticas preventivas é que podemos esperar controlar a atual epidemia de HIV.