Por Aod Cunha, economista, ex-secretário da Fazenda do RS e sócio do Sport Club Internacional
Sou um sócio colorado que não pertence a qualquer corrente política do Inter. Reconheço em Roberto Melo um colorado dedicado ao clube, com respeitáveis apoios, como o do ex-presidente Giovanni Luigi, mas acredito que o grupo liderado por Alessandro Barcellos está mais próximo da compreensão sobre que tipo de gestão tornará o clube mais competitivo nos próximos anos.
A indústria do futebol está mudando no Brasil. Até alguns anos atrás, os maiores clubes tinham diferenças de receitas não maiores do que 30% ou 40% entre si. Esse cenário mudou com novos marcos regulatórios e de mercado, como a Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a formação de atletas, a transmissão de imagens, potenciais ligas, arenas, streaming, a comercialização de produtos e eventos.
O grupo liderado por Alessandro Barcellos está mais próximo da compreensão sobre que tipo de gestão tornará o clube mais competitivo
Utilizando como exemplo um clube que não optou por SAF, mas fez reformas ousadas no seu estatuto e em sua gestão, o Flamengo deve fechar 2023 com receita recorrente próxima a R$ 1,3 bi, algo como 3,5 vezes (250% maior) a receita recorrente do Inter. Só no marketing (excluindo direitos de TV), o Flamengo passou de R$ 50 milhões para R$250 milhões em cinco anos. O Inter tem aproximadamente os mesmos R$ 50 milhões de cinco anos atrás.
Como ser competitivo nos próximos 10/20 anos com essa discrepância de receitas? Não só contra o Flamengo, mas contra outros, mesmo sem SAF, como o Palmeiras e o São Paulo, que vêm expandindo receitas.
Gostaria que a gestão Alessandro Barcellos já tivesse feito mais avanços, mas reconheço progressos relevantes:
1. O Inter parou de aumentar o endividamento bancário a juros altos. Resultado de estoque passado, pagaremos aproximadamente R$ 70 milhões em 2023 para bancos, enquanto o Flamengo, superavitário, receberá R$ 70 milhões dos mesmos.
2. Depois de anos, o orçamento no futebol está sendo executado dentro dos valores aprovados inicialmente.
3. Alessandro liderou a formação do Forte, iniciativas para uma liga e a captura de receitas adicionais. Publicamente, comprometeu-se a utilizar a maior parte desses recursos para liquidar dívidas caras, que retiram dinheiro do futebol.
Muito mais precisa ser feito, incluindo, antes mesmo de novos investidores, mudanças de estatuto e gestão que aumentem a capacidade de geração de receitas recorrentes. Aposto que o atual presidente irá atrás disto, depois de fazer uma eleição em bom nível e unir o clube em 2024.