Cinco municípios gaúchos ainda mandam resíduos para lixões. São eles: Ipiranga do Sul, Santa Margarida do Sul, São Gabriel, Uruguaiana e Viamão. O prazo para fechar esses locais terminou no dia 2 de agosto. Em Viamão, o prefeito Valdir Bonatto considera o lixão um aterro controlado.
“Fizemos várias intervenções em 2013 e planejamos para que em 2014 a gente possa chegar até o final do ano transformando aquele lixão num aterro sanitário. Hoje, nós estamos numa situação controlada, um aterro controlado”, afirma Valdir Bonato.
Mas não foi isso que a Rádio Gaúcha presenciou. Comprovamos que o local serve como depósito de lixo. A reportagem só teve autorização para ingressar na parte que já foi organizada do lixão, que fica em frente ao portão de entrada. Alegando questão de segurança, não foi permitido acompanhar os caminhões até o topo do morro onde o lixo é despejado.
No entanto, com autorização do caseiro de uma propriedade vizinha, chegamos até o “pé” da montanha de lixo. Encontramos muito lixo misturado e a céu aberto, dezenas de urubus e outras aves sobrevoando o local, chorume “correndo” sem qualquer tratamento, além de um mau cheiro muito forte.
Leandro Silva da Silva é caseiro da propriedade rural que fica nos fundos do lixão de Vimão. Sofre com o mau cheiro e teme pelos gases gerados pelos resíduos e o chorume que corre a céu aberto.
“Durante o verão, pela manhã tem o cheiro muito forte, durante a tarde também. É horrível. Fora o lixo que invade a nossa propriedade. Cai muito lixo. Estou sempre juntando sacolas de lixo aqui pra dentro. É perigoso, mas a gente tem que viver. Se chegar bem perto da cerca, tu vê o chorume passando”, lamenta Leandro.
Os quatro lixões que existem no Rio Grande do Sul recebem resíduos de cerca de 450 mil pessoas. Os locais não possuem qualquer cuidado com o meio ambiente. Além desses locais, são 41 aterros controlados (recebem resíduos de 59 municípios), que são terrenos ambientalmente irregulares, mas em processo de regularização, e 36 aterros sanitários licenciados pela Fundação Estadual do Meio Ambiente, a Fepam, que recebem resíduos de 399 municípios. Também há 12 municípios gaúchos que mandam o lixo domiciliar para aterros em Santa Catarina. Vinte e dois não informaram à Fepam o destino que dão ao lixo.
Aterro de Minas do Leão
Estivemos no maior aterro sanitário do sul do País, que fica em Minas do Leão, a pouco mais de 100 km de Porto Alegre. O local recebe resíduos de 34 % da população gaúcha. Os números são grandiosos. A área é de 500 hectares, recebe 90 mil toneladas de lixo por mês e atende 140 municípios.
O aterro sanitário é privado e funciona 24 horas. São 220 entradas de caminhões diariamente. O município de Porto Alegre é o maior cliente, enviando 50% de todo o resíduo que o local recebe. Entre outros municípios de grande porte que mandam o lixo para Minas do Leão, estão Canoas, Gravataí e Novo Hamburgo. Já entre os mais distantes, está Passo Fundo, a cerca de 300 km de distância.
“Eu estou vindo de Passo Fundo. Faço esse trajeto todos os dias. Estou trazendo 26 ou 27 toneladas. São 4h30min de viagem”, conta o motorista da carreta.
As carretas lotadas de lixo param na portaria para identificação, seguem para uma balança, onde são pesadas, e estacionam ao lado do escritório da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos, que administra o aterro. Nesse local, o motorista do caminhão apresenta documentos que comprovem a origem do resíduo. A etapa posterior é despejar o lixo em montanhas de mais lixo.
O gerente comercial da empresa responsável pelo aterro de Minas do Leão, Antônio Saldanha Nunes, explica o funcionamento do local.
“A partir dessa descarga, o caminhão é inspecionado pra ver se o resíduo está adequado à legislação e a partir daí o caminhão retorna, o resíduo é espalhado e compactado. E aí depois a gente retorna todo o ciclo. Isso é feito nessa área de trabalho”, destaca Saldanha.
Felipe trabalha no meio do lixo, literalmente, durante várias horas do dia.
“Eu tenho 21 anos e moro em Minas do Leão. Eu sou deslonador (que retira as lonas que ficam em cima das caçambas carregadas de lixo) e juntamente encostando o carreto e limpando. Trabalhar aqui é....não tenho quase o que dizer. Mas é bom. É o serviço que tem na região. Não afeta tanto, como às vezes as pessoas comentam. Sobre o cheiro forte, já estou acostumado”, conta Felipe.
Perto de Felipe, estava o motorista João. Ele recém havia descarregado o lixo transportado do município de Gravataí. “Estou varrendo a caçamba pra não voar o resto do lixo na estrada. Faço isso todos os dias”, conta o motorista.
Depois de descarregarem a carga de lixo, os caminhoneiros seguem novamente para a balança, desta vez com as caçambas vazias, para conferir o peso real da carga. No local, recebem um documento com o peso e o valor a pagar. Antes de deixar o aterro de Minas do Leão, os caminhões passam por uma ducha.
O aterro de Minas do Leão funciona integrado à mineração de carvão. As cavas abertas na área para a retirada do mineral são utilizadas mais tarde, após um processo de tratamento do solo, impermeabilização e liberação pela Fepam.
O lixo que fica embaixo da terra produz chorume, que é o líquido poluente oriundo da decomposição dos resíduos. Essa substância é drenada das cavas para lagoas. São sete no aterro de Minas do Leão, como destaca Saldanha.
“Nós temos lá atrás do aterro as lagoas de acúmulo de lixiviado (líquido oriundo da decomposição do lixo). A partir dela, o líquido é bombeado e é recebido dentro dos banhados construídos e da estação de tratamento. A partir dali, no momento que o tratamento se adequou à legislação, ele é encaminhado para a bacia onde se encontra o lavador de carvão”, explica Saldanha.
São 400 m³ por dia de líquido tratado, que é usado para o beneficiamento do carvão. Já o gás gerado pela decomposição do lixo, que tem metano altamente poluente, é queimado e vira gás carbônico, para poluir menos a natureza.
“Nós estamos na unidade de captura e queima do biogás, que é uma unidade que nós fizemos a captura do biogás gerado no aterro, considerando que 44% desse biogás é metano. E o metano é 21 vezes mais prejudicial à camada de ozônio do que o CO2. Com isso, nós conseguimos através desse projeto ter a aprovação na ONU dos créditos de carbono e através do protocolo de Quioto construir essa unidade que nos dá um controle maior ambientalmente falando do biogás que nós geramos dentro do aterro”, destaca.
Mas a empresa pretende colocar em operação até março uma usina Biotérmica, transformando o gás dos resíduos em energia.
“Essa queima é um desperdício, porque nós podemos utilizar essa queima a partir da geração de energia. Então, esperamos que a partir de março já esteja funcionando a unidade biotérmica, considerando aí uma capacidade de 8 Megawatts”, adianta o gerente da CRVR.
Confira como funcionam o lixão de Viamão e o Aterro de Minas do Leão:
Na próxima reportagem, o que dizem as autoridades sobre o destino final dos resíduos. E ainda um levantamento exclusivo da Rádio Gaúcha das multas aplicadas aos aterros sanitários por irregularidades ambientais.
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