As duas fundações que fazem acolhimento de crianças em Porto Alegre sofrem o impacto do crack. Nos últimos anos, cresce o número de abrigados, principalmente bebês. O vício das mães está por trás de quase todos os casos. Em torno de 100 crianças de até dois anos estão acolhidas na Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) e Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul. O enfermeiro responsável pela rede própria da FASC, Jonatas de Freitas Silva, relata muitos problemas de saúde.
- Temos crianças com algum grau de retardo mental, alguma dificuldade cognitiva, problemas respiratórios - enumera.
A assistente social da Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul, Suzana Richter, revela que é cada vez mais comum o abandono ainda no hospital. Depois, as mães não são mais localizadas. A psicóloga da entidade, Ana Cellina Garcia Albornoz, já viu vários casos, como de um bebê que não conseguia mamar na mamadeira porque era alimentado numa lata na rua.
- Muitas vezes as mães não conseguem cuidar delas mesmas e nem dos bebês. São crianças que aparecem com machucados, com pele queimada com cigarro - conta a psicóloga.
A pediatra Gabrielle Bocchese da Cunha lembra que estas mães perdem o censo crítico, usam drogas, álcool e cigarro, não fazem pré-natal, apresentam desnutrição e até doenças, como a Aids. Ela conta que são diversas implicações para os bebês, como infecções, sífilis congênita ou alterações de comportamento. A médica destaca que são casos dos mais graves até aqueles sem nenhum problema. Nas primeiras semanas de vida, o bebê pode ficar mais agitado e ter dificuldade de mamar.
- Ele pode ter mais dificuldade para dormir, o mamar mais rápido, é como um bebê pré-maturo. Mas é um quadro reversível, com o amadurecimento do sistema nervoso central, pode melhorar muito, principalmente se os cuidados forem adequados - diz Gabrielle.
A médica trabalha no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, em Porto Alegre. Em quatro anos, foram identificados 360 bebês expostos a drogas na gestação, a maioria com uso de crack. A médica estima que na realidade o número é o dobro. Ela reforça a importância do tratamento contra a droga para a mãe na gestação e após o parto, ficando junto com o bebê, mas lamenta as poucas vagas.
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