Pequenos
notáveis

Na última avaliação sobre o Ensino Fundamental, apenas quatro municípios aparecem entre os cinco melhores tanto em língua portuguesa quanto em matemática no Rio Grande do Sul. GZH visitou escolas em todos, nenhum deles com mais do que 3,4 mil habitantes, para mostrar qual seu diferencial

REPORTAGEM

Guilherme Justino

IMAGENS

Omar Freitas

EDIÇÃO

Ticiano Osório

PROGRAMAÇÃO

Hermes Wiederkehr

Renan Duz, Joana Gusberti (ao centro) e Shayane dos Santos: em Fagundes Varela, alunos trocam experiências com colegas de outros anos

Os municípios gaúchos de São Valentim, Fagundes Varela, Saldanha Marinho e Imigrante destoam de uma realidade comum a escolas da rede pública no Brasil. Neles, não há salas de aula sucateadas, infraestrutura precária, turmas superlotadas, escassez de professores, falta de repasses para a merenda. Sem cobrar nada, nem selecionar seus estudantes, esses locais oferecem educação com a qualidade que se habitou a associar ao ensino privado no país.

O transporte escolar passa perto de casa e deixa na hora certa na escola. Professores têm tempo para preparar as aulas e há os equipamentos de que eles precisam para lecionar. Os efeitos disso e de tantas outras características são visíveis: alunos motivados, pais participativos, diretores confiantes e as melhores médias no Ensino Fundamental do Rio Grande do Sul na mais recente edição do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Localizadas em regiões bem variadas – Norte (São Valentim), Serra (Fagundes Varela), Noroeste (Saldanha Marinho) e Vale do Taquari (Imigrante) –, essas pequenas cidades alcançaram notas muito acima das médias gaúcha e brasileira em língua portuguesa e matemática.

Em comum, além da população escassa (entre 2,5 mil e 3,3 mil habitantes) e de terem poucas – e boas – escolas públicas, está a oferta de formas diferentes de ensinar. Uma valoriza a leitura e a incentiva diariamente; outra, as atividades que vão além das aulas obrigatórias. Uma busca o contato próximo entre pais, estudantes e educadores; outra, a troca de experiências entre alunos matriculados em diferentes anos.

É preciso ponderar, porém, que o fato de os municípios com as melhores médias no RS serem todos pequenos não é mera coincidência. Avaliações em larga escala sofrem com um viés de cunho estatístico: quanto menor a amostra, maior a chance de uma única turma atingir resultados expressivos, alterando a média de todo o sistema de ensino. E isso serve para os dois lados.

– As cidades pequenas costumam aparecer em extremos. Estão entre as melhores e também entre as piores em avaliações como essas – diz o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que ajudou na criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Para evitar falso-positivos – casos em que alguns poucos alunos tenham elevado em muito a nota de um município, levando a uma percepção diferente da realidade –, a solução é avaliar a evolução escolar, conferir se há motivos para os bons resultados e identificar se eles são consistentes, como acontece com São Valentim e Fagundes Varela, destaques no 5° ano, e com Imigrante e Saldanha Marinho, melhores médias do Estado no 9° ano.


E o que explica esse sucesso? Coordenador geral da Campanha Nacional de Educação, o cientista político Daniel Cara aponta alguns fatores em comum.

– É um fenômeno com muitas causas e explicações. Em municípios pequenos, há mais educadoras e educadores à frente das secretarias. Isso é decisivo. A gestão é pedagógica, não leiga. O controle social também é facilitado: os cidadãos estão realmente mais próximos da gestão. Por último, há mais possibilidades de mobilizar as comunidades escolares, elas são mais relevantes em relação à sociedade.

Analisando os resultados gerais, fica claro que os índices de aprendizado pioram com o passar dos anos escolares. Para Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da USP, é difícil achar explicações. Os fatores que incidem no desempenho dos estudantes são diversos, desde as condições externas e desiguais dos contextos socioeconômico e cultural das escolas e de seus alunos até características específicas de organização e gestão. Sandra afirma:

– Um dos aspectos a ser considerado é um investimento em iniciativas de formação dos profissionais em língua portuguesa e alfabetização, que tendem a incidir com maior frequência naqueles que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, pode-se considerar que nos anos finais muitas mudanças ocorrem na própria rotina do trabalho escolar, entre elas a substituição do professor polivalente por diversos professores de áreas específicas do conhecimento.

Para os educadores, é preciso aprender com os bons exemplos e interpretar os dados em sua totalidade para buscar resultados melhores nas redes de ensino. Com as mudanças previstas para o Saeb a partir deste ano, passando a englobar todas as provas voltados à educação básica no país em uma única avaliação, o objetivo é ter um diagnóstico cada vez mais claro. Descubra, abaixo, o que faz de São Valentim, Fagundes Varela, Imigrante e Saldanha Marinho referências para a educação brasileira.

O que é o Saeb?

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é um processo em larga escala realizado periodicamente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC).
A partir da aplicação de provas e questionários, o Saeb oferece dados que contribuem para a elaboração, o monitoramento e o aprimoramento de políticas públicas.
Em conjunto com as taxas de aprovação, reprovação e abandono apuradas no Censo Escolar, os resultados de aprendizagem do Saeb compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Na última edição, realizada em 2017 (uma nova será aplicada neste ano, com resultados esperados para 2020), mais de 5,4 milhões de estudantes participaram. São aplicados testes de língua portuguesa e matemática para turmas do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio.

O critério de GZH

Como o Saeb é obrigatório apenas na rede pública – no ensino privado, é amostral –, GaúchaZH concentrou a análise dos resultados em escolas municipais, estaduais e federais.
Também optou-se por reunir os resultados tanto de escolas urbanas quanto rurais, pelo entendimento de que, assim, é possível apresentar um quadro mais amplo da realidade do ensino de um município.
A consistência foi um fator na hora de escolher os municípios a serem visitados pela reportagem: deu-se prioridade àqueles que apareciam entre os cinco primeiros em ambas as disciplinas avaliadas.

ANOS INICIAIS
1º ao 5º ano do Ensino Fundamental

O que se espera dos estudantes nessa etapa

Em língua portuguesa:

Identificar o assunto principal e personagem em contos e letras de música;
Reconhecer sentido de expressão, elementos da narrativa e opinião em reportagens, contos e poemas;
Inferir efeito de humor em tirinhas e histórias em quadrinhos.

Em matemática:

Reconhecer retângulos em meio a outros quadriláteros;
Determinar o total de uma quantia a partir da quantidade de moedas de 25 e/ou 50 centavos que a compõe, ou vice-versa;
Apontar os termos desconhecidos em uma sequência numérica de múltiplos de cinco.

A rotina de leitura em São Valentim



O hábito é seguido tão à risca que é como se integrasse a grade curricular: todos os dias letivos, às 7h45min e às 13h15min, cada estudante das escolas públicas de São Valentim dedica 15 minutos à leitura. O sinal, quando toca, alerta para o início e o fim desse período, sempre antes do começo das aulas. E nada de perder esses minutos: quem se atrasa sem uma justificativa tem a atenção chamada pelos professores. A leitura é levada muito a sério no sistema de ensino desse pequeno município na região Norte do Estado.

Pode ser com gibis, com revistas trazidos de casa; pode ser com livros retirados da biblioteca, até com o material do colega. O que importa é ler. A dedicação é tanta que envolve também os professores e funcionários das escolas – a não ser que toque um telefone ou chegue alguém requisitando atendimento na secretaria. E pergunte a qualquer um deles, a resposta será a mesma: ler não é uma obrigação. É um prazer.

– Eu gosto. Parece que eu estou dentro do livro, sabe? É legal! Parece que a gente fica viajando dentro do livro. Eu amo ler. Amo ler! – diz, com incontida animação, Allana Letícia Betin, 10 anos, aluna do 5° ano na escola municipal Professora Azídia dos Santos Capellari.

O efeito dessa rotina não é percebido apenas nas aulas de língua portuguesa e literatura: a boa compreensão de texto faz os valentinenses compreenderem melhor qualquer disciplina. E os torna, também, mais curiosos, interessados, questionadores.


Na escola municipal Professora Azídia dos Santos Capellari, em todos os dias letivos, 15 minutos são dedicados exclusivamente à leitura de livros, revistas, gibis

Diante de uma classe de 12 alunos, a professora Silvana Sampaio exemplifica bem isso. Faz e recebe perguntas a todo momento. O conteúdo (naquela manhã, a organização do Sistema Solar) passado com a participação das crianças:

– Vamos conhecer um pouquinho cada planeta? Aqui nós temos...?
– Mercúrio!
– Que é muito...?
– Frio! Não! Quente!
– Isso. Por que...?
– Fica perto do Sol!
– Algum astronauta consegue visitar esse planeta?
– Não! Faz muito calor lá!

Assim, prendendo a atenção e estimulando a busca de respostas pelos próprios alunos, Silvana guia uma das turmas do 5º ano ao longo de quatro dias da semana. No quinto dia, professores de língua inglesa e educação física se dividem entre os estudantes. Os 25 alunos dessas turmas bem que poderiam formar um único grupo, mas a direção achou melhor dividi-los: assim, entende, é possível dar maior atenção a cada um.

– Vimos que turmas menores funcionam melhor – explica o diretor da escola municipal, João Cominetti.

São Valentim já tem um histórico de bons resultados em educação. Em 2010, figurou no topo do ranking entre as cidades gaúchas nas notas das então 5ª a 8ª séries calculado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). À época, o investimento em cursos contínuos de qualificação de professores, o comprometimento de toda a comunidade escolar e reformas nas estruturas físicas das escolas eram apontados como alguns destaques.

O secretário de Educação do município, Arnaldo Putrick, reforça que o investimento no ensino nem sempre é valorizado. Mas que os resultados são fundamentais.

– É mais fácil dar valor para a construção de uma ponte, de uma estrada. A educação não é tão palpável. Mas uma pessoa com boa educação poderá se destacar no que ela quiser.

Português

  • Taquaruçu do Sul

    261,03

  • São Valentim

    260,78

  • David Canabarro

    256,34

  • Fagundes Varela

    255,80

  • Santa Tereza

    255,38

  • Rio Grande do Sul

    213,19

  • Brasil

    209,16

Matemática

  • Barra do Rio Azul

    284,67

  • Canudos do Vale

    274,46

  • Bozano

    274,23

  • Fagundes Varela

    272,71

  • São Valentim

    272,10

  • Rio Grande do Sul

    221,97

  • Brasil

    218,59

O ensino globalizado em Fagundes Varela



Quando Augusto Ferronato, nove anos, recebeu uma lista de assuntos entre os quais poderia escolher para ter uma aula temática, nem acreditou. De explicações sobre o universo até como surgem os vulcões, o aluno da escola Caminhos do Aprender, em Fagundes Varela, então no 4º ano do Ensino Fundamental, tinha um cardápio variado de temas em que poderia se aprofundar – e isso a partir de uma opção que ele mesmo faria!

Como Augusto, outros estudantes do 1º ao 5º ano da única escola com anos iniciais no município da Serra passaram a ter, uma vez por semestre, a oferta de aulas compartilhadas. Ao longo de um turno, turmas com crianças de seis a 10 anos dividem uma mesma sala de aula e compartilham experiências e conhecimento, mesmo com a diferença de idade.

– Eu fui no tema do universo, e gostei um monte de trabalhar com os pequenos – afirma Augusto, sentindo-se já mais velho ao mencionar os alunos até o 3º ano.

Da mesma forma, Kailane Strapazzon, 10 anos, aproveitou a oportunidade oferecida pela escola.

– Fiquei bastante em dúvida quando vi a lista. Tinha tantas opções! Mas o meu tema foi o teatro, e achei uma experiência bem legal. Aprendi muita coisa – relembra.

A oportunidade faz parte da ideia de ensino globalizado trabalhada na escola: com abordagem pedagógica motivada pelo desenvolvimento de projetos, a escola busca fazer da criança ao mesmo tempo ouvinte e colaboradora no próprio processo de aprendizado.

– O professor trabalha como mediador, não traz respostas prontas. Ele é provocador. Auxilia os alunos a fazerem suas próprias descobertas. E assim o conhecimento se torna realmente significativo, fica incorporado ao aluno – garante Sirlei Tedesco, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental na escola.

As novidades promovidas pela escola – pública, lembre-se – não param por aí. No ano passado, com aval e apoio dos pais, as crianças tiveram uma aula noturna em que puderam observar o céu, junto com os professores e colegas de diferentes anos.


Na Caminhos do Aprender, os alunos transitam entre os espaços da escola, têm aulas noturnas e, uma vez por semestre, compartilham as classes com crianças de idades diferentes

Sair dos confins das salas de aula é uma constante no ensino de Fagundes Varela. Os alunos têm tudo por perto: um campinho com brinquedos – que está passando por reforma –, quadra coberta, ginásio onde são realizadas palestras e também as aulas de dança e teatro. E estão sempre transitando entre um espaço e outro, garantindo mobilidade ao processo de aprendizado.

– A educação não se resume ao que pode ser passado em um espaço fechado. Eles aprendem fora dali tanto quanto dentro da sala de aula – defende Roberta Maria Rigo, diretora da escola Caminhos do Aprender.

A predileção por aproveitar a área externa é tamanha que os pequenos têm solicitado, sempre que são ouvidos no projeto Café com Prosa – que reúne alunos, professores e diretores com o objetivo de angariar ideias para uma gestão compartilhada na escola –, uma bela e sombreada casa na árvore nas dependências da escola.

Desnecessário? Absurdo? Despropositado? Que nada. A diretora garante: vai sair.

Anos finais
6º ao 9º ano do Ensino Fundamental

O que se espera dos estudantes nessa etapa

Em língua portuguesa:

Interpretar o sentido de conjunções, de advérbios, e as relações entre elementos verbais e não verbais em tirinhas, fragmentos de romances, reportagens e crônicas;
Comparar textos de gêneros diferentes que abordem o mesmo tema;
Inferir tema e ideia principal em notícias, crônicas e poemas.

Em matemática:

Reconhecer a planificação de um sólido simples, dado através de um desenho em perspectiva;
Determinar a soma, a diferença, o produto ou o quociente de números inteiros em situações-problema;
Associar dados apresentados em tabela a gráfico de setores.

As aulas extracurriculares em Imigrante



It’s an English class! – diz a professora Deisi Prediger, ao apresentar a aula que dava para a turma do 9° ano na escola municipal Arco-Íris, em Imigrante, que a reportagem de GaúchaZH acompanhava naquela manhã.

Os alunos, poucos – são apenas oito matriculados neste ano – e muito concentrados, estavam ali da mesma forma que devem seguir ao longo de todo o ano. Presentes, atentos, participativos.

Aulas de inglês passam a ser obrigatórias no currículo do Ensino Fundamental no 6º ano. Antes disso, são raras na rede pública, e costumam ser oferecidas como um diferencial por escolas particulares. No pequeno município de 3 mil habitantes localizado no Vale do Taquari, porém, todos os estudantes do 2° ao 9° ano do Ensino Fundamental contam com lições semanais da língua estrangeira como parte da grade curricular.

A atividade não é a única extracurricular a ser oferecida a todos os 390 alunos das escolas da rede municipal de Imigrante, onde há somente duas instituições de ensino com anos iniciais e finais. Em alguns casos no contraturno, em outros, no próprio período de aulas, os estudantes têm acesso livre a lições de teatro, patinação, música – as aulas de violino são disputadas –, oficinas de ciências. Nenhuma é obrigatória: cada um escolhe o que – e se – quer fazer, mas a maioria aproveita a oportunidade para complementar os estudos em vez de, por exemplo, ficar em casa, dormir até mais tarde. A opção também agrada aos pais.

– Nossa relação com eles é muito próxima. A gente conhece a família, e a família nos conhece. Tem muito pai que vem nos elogiar. Quando chega ao fim do 9° ano, muitas vezes escutamos deles: “Por que não tem Ensino Médio na escola?”. Eles chegam a ficar sentidos de se despedir daqui – afirma Carla Klein Camilo, diretora da escola Arco-Íris.

O colégio oferece ensino em tempo integral às crianças do 1° ao 4° ano. Mas qualquer aluno vinculado à rede municipal pode se inscrever nas atividades extracurriculares – o investimento, garante a prefeitura, é todo da Secretaria Municipal de Educação. Até mesmo os pequenos matriculados na educação infantil têm contato, desde cedo, com professores de informática, música, arte.


Na Arco-Íris, onde as turmas são pequenas, todos os alunos do 2º ao 9º do Fundamental contam com aulas de inglês — que só é obrigatório a partir do 6º

Entre aqueles que já estão concluindo o Fundamental, a atenção é voltada para outra área. Em 2017, três alunas do 7° ano tiraram o 1º lugar em sua categoria na Feira de Ciências da Univates. Em 2018, o trabalho foi selecionado para participar da Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia (Mostratec), uma feira científica de abrangência internacional realizada anualmente em Novo Hamburgo.

– É bacana a gente poder aprender novas coisas, é bom para o nosso aprendizado. E trabalho em equipe assim é sempre mais interessante – garante Gabriela Massotti, 13 anos, hoje aluna do 9° ano.

Para o secretário de Educação, Cultura, Desporto e Turismo (em municípios pequenos, a lista de atribuições de uma pasta é mesmo longa) de Imigrante, David Orling, muito da qualidade da educação se deve à presença constante, engajada e exigente dos pais, das associações e dos conselhos municipal e escolar.

– A sociedade imigrantense vive, respira e cobra educação.

Português

  • Saldanha Marinho

    303,83

  • Imigrante

    303,17

  • Guabiju

    301,74

  • Dois Lajeados

    298,46

  • Tupanci do Sul

    295,32

  • Rio Grande do Sul

    261,61

  • Brasil

    251,68

Matemática

  • Imigrante

    325,02

  • Montauri

    323,29

  • Saldanha Marinho

    315,36

  • Brochier

    311,14

  • Barra do Rio Azul

    310,11

  • Rio Grande do Sul

    261,19

  • Brasil

    250,07

A educação individualizada em Saldanha Marinho



Quando tem dúvidas em alguma disciplina, a estudante Bianca Bauermann, 14 anos, pode até se dar ao luxo de pegar o celular e mandar uma mensagem diretamente para a professora. Aluna do 9° ano na escola Birkhann e Tonon, a jovem exemplifica uma característica que é marcante na educação pública de Saldanha Marinho, no Noroeste do Rio Grande do Sul: a proximidade entre estudantes, pais e educadores.

Proximidade essa que é, também, física. Em um município de apenas 2,7 mil habitantes, praticamente todo mundo se conhece. Mas não é apenas isso. Os alunos sabem que podem contar com os professores, sentem-se à vontade para tirar dúvidas, pedir algum tipo de reforço, até sugerir uma atividade ou outra. Os pais conhecem de perto os integrantes da direção da escola, os funcionários da secretaria. E esses profissionais conseguem prestar atendimentos individualizados.

– Eles dão o máximo para a gente aprender. Incentivam. Tanto para ir para outra cidade, seguir o nosso sonho, quanto para ficar aqui, fazer nossa carreira em Saldanha mesmo. O ensino é muito bom – explica Bianca.

Para a secretária de Educação do município, Silvani Rauber Jorgensen, está aí um dos principais motivos para os bons índices de aprendizado.

– Se o aluno tem dificuldade, ele sabe que pode falar com a gente, que vamos atendê-lo. Os pais também têm esse contato e a confiança de que vamos analisar a situação dos estudantes individualmente, estejam eles indo bem ou mal. Isso facilita o trabalho envolvendo a educação de todos – garante Silvani.

Toda semana, a secretária costuma se reunir com a coordenadora pedagógica da pasta e a presidente do Conselho Municipal de Educação. Na pauta, o que fazer nos próximos dias e os planos para o restante do ano letivo. As reuniões na secretaria frequentemente incluem os pais.

– Sempre que solicitamos a participação dos pais, reunimos muitos deles. Esse é um ponto bastante positivo. A contrapartida é que pais engajados podem cobrar mais, o que aumenta a pressão sobre a escola quando, por exemplo, um aluno não vai bem – complementa Rosângela da Fonseca, diretora da escola estadual de Saldanha Marinho.

A infraestrutura nas duas escolas da cidade é muito boa, especialmente diante da aparência de abandono comum na rede pública: são prédios bem conservados, recém pintados; as salas de aula estão equipadas com ar-condicionado; laboratórios de informática e de ciências ficam à disposição de docentes e discentes.


Mesmo diante de dificuldades como uma sala de informática sem computadores, alunos da escola Birkhann e Tonon alcançaram bons resultados

Mas os resultados não chegam sem dificuldades. Na instituição municipal, faltam computadores e cadeiras, então os estudantes se amontoam diante de uma única tela; na estadual, pipetas e microscópios não são utilizados como poderiam por falta de investimento.

O ensino integral, que é frequente em outros municípios pequenos no Fundamental, não é aplicado a todos os anos em Saldanha Marinho. Os estudantes, contudo, podem optar por aulas de capoeira, dança, futsal e música, entre outros, no turno inverso ao daquele em que estudam.

Nove lições dos municípios gaúchos

Qualificação docente

Os professores dão aulas na área em que fizeram sua graduação. A maioria tem algum tipo de pós-graduação voltada ao ensino. E boa parte dos municípios busca promover e incentivar a formação continuada dos docentes.

Tempo em sala (e fora dela)

Há professores em número suficiente para garantir que todos tenham tempo de planejar as aulas semanalmente. Assim, também se evita a sobrecarga de trabalho e o acúmulo de turmas.

Secretários-professores

É comum que os titulares das secretarias de Educação tenham experiência docente, apesar de o cargo ser político.

Infraestrutura

As salas são bem equipadas, inclusive para o aprendizado de informática e de ciências; os prédios, novos ou bem conservados. Há um ginásio ou, ao menos, um campo por perto.

Transporte escolar

Há ônibus para todos os alunos, eles funcionam e chegam na hora certa. Apesar de os custos serem arcados, no Ensino Fundamental, principalmente pelos próprios municípios, a frota leva os jovens também para as escolas estaduais.

Famílias atuantes

A participação dos pais é incentivada. E eles atendem ao chamado, seja na organização de festividades, seja em mutirões de limpeza ou pintura. Em contrapartida, podem cobrar mais dos educadores também.

Tamanho das turmas

Nada de salas lotadas: sempre que possível, as escolas buscam dividir uma turma grande em duas menores. A média é de aproximadamente 15 alunos. Assim, entende-se, é possível dar mais atenção individual aos estudantes. E eles também se sentem mais à vontade para expor suas dúvidas.

Atividades extracurriculares

É raro algum dos municípios com bons índices de educação não ofertar atividades além da grade curricular obrigatória no Ensino Fundamental. De futsal a capoeira, de música a oficinas de ciências, a participação dos alunos é opcional – mas a maioria se inscreve em alguma atividade no contraturno.

Aposta no ensino integral

Não são todos os que conseguem, mas os municípios que se destacam no Ensino Fundamental se esforçam para oferecer pelo menos sete horas diárias de atividades escolares. Às vezes elas são restritas aos primeiros anos; em outras, acontecem só em tempo parcial.